sexta-feira, 14 de março de 2014

... Female Pride ...



Comecei a escrever esse texto, ou pelo menos a primeira versão dele, tem mais ou menos uma semana, claro, motivada obviamente pelo dia 08 de Março, conhecido como o Dia Internacional da Mulher. Pois bem, hoje já é dia 14, o que evidencia que acabei atrasando a publicação do texto. Não por falta de inspiração, bloqueio criativo ou falta de assunto, mas sim, porque quando o li pela terceira vez, depois de supostamente pronto, senti que o teor do texto anterior estava fraco para a importância que o tema carrega consigo.

Fato é meninas, que todas nós acabamos por ganhar algum presente no dia 08, ano após ano, de forma até que religiosa diga-se de passagem. Algumas de nós ganham rosas, outras bombons, lembrancinhas compradas pelas empresas que trabalhamos, ou no mais simples e comum dos casos inúmeras felicitações pela tal data. Pois bem, ignorando o fato de existir um consumismo desenfreado que torna todas as datas do nosso calendário cada vez mais comerciais e menos significativas de fato, fico pensando: será que esse significado também perdeu-se para o comércio? Será que as pessoas conseguem ter a dimensão do que efetivamente representa esta data? Esta luta? Afinal, merecemos sim parabéns por sermos mulheres, colorimos a vida! Mas fico realmente sem entender o que é que tanto se comemora neste dia, tendo em vista em que acontecimento a data se baseia.

Pode parecer loucura para alguns, mas estranhamente não vejo muito o que se comemorar no fato de que lá em 1857 operárias de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque, começaram a reivindicar melhores condições de trabalho, tais como, redução na carga diária de trabalho de dezesseis para dez horas, equiparação de salários com os homens (afinal ganhavam um terço do salário pago aos homens, para desempenharem as mesmas funções), e tratamento digno dentro do ambiente de trabalho. Quando não mais do que de repente, tiveram sua legítima manifestação desumanamente reprimida, foram trancadas dentro da fábrica, e simplesmente incendiadas. Cento e trinta tecelãs morreram carbonizadas, num ato de completa e total falta de humanidade e excesso de crueldade. Ah, e mesmo assim, a tal da ONU levou apenas 118 anos para reconhecer oficialmente o tal do 08 de março como um marco que merecia ter nome e significado na história mundial. 



Aquelas mulheres de 1857 não lutaram e tampouco morreram apenas por aumento de salário ou redução da jornada de trabalho, mas sim por um ideal, por uma ideia. E uma ideia paranóicos, é uma arma extremamente poderosa. Resiste ao tempo, a chuva, a seca, ao calor, ao frio, as pessoas, e até mesmo a ignorância da sociedade. Apesar de o feminismo ter surgido em 1848, seu discurso ganhou força e tomou uma proporção muito maior depois da tragédia que aconteria 09 anos depois naquela fábrica, transmitindo ao mundo a mensagem de que uma ideia, de fato, não pode ser morta por balas, nem pelo fogo, como foi o caso daquelas tecelãs.

Nós, enquanto mulheres, sempre fomos taxadas, catalogadas e rotuladas de acordo com os desejos, caprichos e achismos masculinos. Temos que exercer o título de sexo frágil, ter corpos perfeitos, cabelos lisos, saltos altos, maquiagem, dotes culinários, ser prendada, boa moça, menina "de família". Crescemos ouvindo nossas mães e pais nos mandarem sentar com as pernas fechadas, que é feio falar palavrão, e que menina brinca de boneca, não joga bola, não anda de carrinho de rolemã, não dá risada alto, não fala alto. Desde que nascemos somos amplamente afetadas pelo machismo reinante em nossa sociedade. Machismo esse que existiu desde que o mundo é mundo. Desde que inventaram que o tal do Deus pertence ao gênero masculino, e que a mulher veio da costela de um homem.


Apesar de todos esses anos de luta,  e combate ao machismo, obviamente nossa sociedade ainda precisa evoluir, e muito. Afinal, ainda hoje nos deparamos com uma realidade onde as mulheres continuam ganhando menos que os homens, sofrendo preconceito apenas por ser mulher, perseguições de gênero, obrigadas a aturar comentários machistas, e violência gratuita. Continuamos vivendo em uma sociedade que culpabiliza a vítima de um estupro, pelo simples fato de se estar usando uma minissaia ou uma blusa decotada demais para supostos padrões morais. Uma sociedade onde homens não consideram como ato ofensivo fazer piada alegando que mulheres não sabem dirigir, ou que lugar de mulher é na cozinha; surpreender-se com o fato de uma mulher ser inteligente e bem sucedida; passar cantadas grosseiras e invasivas sendo completos desconhecidos; desprezar opiniões femininas em seus "assuntos de macho" como futebol, lutas, e etc, não por serem opiniões ruins, mas apenas por virem de uma mulher. Homens, que se acham no direito de xingar uma mulher de piranha, vadia, puta e derivados apenas porque ela não quis lhe dar um beijo na balada, ou porque ela quis sair de casa com um vestido mais curto e o "macho alfa" achou-se com razão de falar como e o que queria, afinal de contas ela é só uma coisa, não é?!

Por mais que ainda hoje esse discurso continue tão presente e massacrante em nosso dia-a-dia, embutido em nossa criação, e sendo disseminado muitas vezes pela boca, e incutido nas mentes das próprias oprimidas por ele, nunca paramos de lutar pelo nosso espaço, pelo nosso lugar ao sol. Nós, feministas, resistimos, lutamos e apesar de tudo, muito conquistamos! Hoje, votamos, estudamos, trabalhamos, somos parte das comissões olímpicas e esportivas, ocupamos posições e profissões que anteriormente eram restritas aos homens, temos a primeira presidenta de nossa história, andamos de calça, tênis e camiseta. Bebemos, fumamos, falamos palavrão, torcemos para um time de futebol, xingamos o juiz!


Pois bem, evoluimos e melhoramos muito o cenário feminino socialmente. Contudo, ainda falta muito para atingirmos nossos objetivos plenamente. Desde lá de trás o feminismo surgiu com uma proposta muito clara. "Descoisificar" a mulher. Partindo contra todo o fashionismo e longe de querer ser o inverso do machismo, carregamos como meta a obtenção de direitos equânimes. Uma vivência humana através do empoderamento feminino em relação a si própria, seu corpo, sua vida, sua posição e papel social e principalmente a libertação de padrões opressores baseados em normas de gênero. Para tanto, precisamos fugir da armadilha contemporânea criada pela grande mídia, que tenta nos vender a ideia de que vivemos em uma sociedade perfeita, sem preconceitos, sem machismo, sem racismo, sem homofobia, sem necessidade de luta.

O feminismo se modificou ao longo dos anos, mas orgulho-me de dizer que jamais perdemos nossa essência. Jamais abaixamos nossa bandeira e nunca estenderemos um pano branco frente a violência imposta pelas classes opressoras. Somos mulheres, somos fortes, nós podemos e vamos viver a plenitude do "ser". Portanto, sim senhores machistas, gostando e querendo vocês ou não, continuaremos gritando a plenos pulmões a nossa liberdade e, podem acreditar queridos, chegaremos lá! Demore o tempo que demorar, custe o que nos custar.


P.S.: Homens, entendam, não importa que roupa eu use, ou deixe de usar, o não é sempre não! Afinal, sou minha, só minha, e não de quem quiser. 

Ah, e sinto muito informar para vocês, mas nós não nascemos de costelas, vocês é que vêm dos nossos úteros ;)

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