terça-feira, 27 de abril de 2010

Liberdade Aprisionada


Hoje não acordei bem. Abri os olhos, olhei pro teto branco do meu quarto... Respirei fundo, chacoalhei a cabeça em uma inútil tentativa de acordar, ou melhor, a fim de realmente despertar de fato, e buscar ânimo para encarar mais uma dessas tediosas, caóticas e fatídicas manhãs de segunda-feira...

Problemas e preocupações atordoam meus pensamentos, mesmo antes de levantar, mesmo antes de conseguir sintoniza-los em uma freqüência minimamente sincronizada ao mundo físico e real... É incrível e ao mesmo tempo um tanto quanto perturbador perceber que por mais que tentemos, jamais seremos homens e mulheres realmente livres. Como assim? Ora, meu caro, diga-me como e se um dia nos livraremos, de fato, da escravidão de nossos pensamentos? Aliás, será que um dia, nossos pensamentos poderam ser apenas livres? Ou teremos por obrigação viver sempre acorrentados e aprisionados aos nossos intermináveis problemas e preocupações?

Alguém aí já ouviu um lindo discurso, geralmente ou pelo menos usualmente narrado assim: "Todo homem possui dois direitos irrevogáveis, a liberdade e a igualdade". Já? Pois é, eu também. Perdi até mesmo a conta de quantas vezes. Agora, o "engraçado" e o que mais me intriga nisso tudo, é perceber o quanto essas premissas são verdadeira e totalmente hipócritas. Ah, sim; pra deixar a coisa ainda mais cômica, pra não dizer trágica, é claro! Vale lembrar que quem teoricamente nos dá e que dentro da mesma lógica deveria nos assegurar esses direitos ditos como irrevogáveis, é o próprio agente de repressão que o impede de atuar!

Como diria o velho, porém, jamais esquecido filósofo "o ignorante afirma, o sábio desconfia e, o sensato reflete". Portanto, caros paranóicos, torço muito para que não desempenhemos apenas o papel de sobriedade e sabedoria que nos é socialmente exigido, mas, que exercitemos algumas qualidades que teoricamente são inerentes a nossa raça, principalmente uma única em particular que nos diferencia minimamente dos outros animais; a nossa capacidade de reflexão. Pois, é apenas através do crivo da sensatez que nossos atos e ações no mundo poderão preservar-nos do cativeiro da alienação que hoje nos é imposta por esse nojento parasita chamado SOCIEDADE!

sábado, 24 de abril de 2010

Conhece-te a Ti Mesmo



Quem sou eu?

Pergunta difícil né?! Bem, eu sou exatamente como você, exatamente! Ambos fazemos parte da mesma espécie, ou melhor, dessa raça, a raça humana. Moldados e pertencentes ao mesmo parasita. Muito, muito, muito antes de nos elaborarmos como seres lindamente chamados de "Bio-Psico-Sociais". Sinto lhe informar caro leitor, mas, já nascemos seres errantes, fomos moldados de forma falha, enganosa, desdenhosa, e próxima da escória. Mas, acalme-se! Para nós, estimados companheiros pertencentes a essa mesma escória humana, o erro não é mais uma falha de caráter, nem ao menos um leve desvio de conduta; tornou-se apenas, um medilcre critério de normalidade.

Assim como você eu vivo, eu rio, eu choro, eu amo, eu canto, eu grito! Assimilo novas informações, vivo novas experiências, sonho e traço novos horizontes, atravesso novos desafios, erro, acerto. Meu conhecimento é incompleto, sim, eu sei. Contudo, esse sanguessua nos faz buscar preencher nossas lacunas intelectuais o tempo todo, transformando essa neurose obsessiva e quase desenfreada, em nossa “rotina diária”, seja nas horas acordadas ou nas horas de sono e descanso. Aliás, sono, descanso? Conceitos interessantes, uma vez que nosso próprio parasita nos oferece-os em prateleiras brancas, nos proporcionando a oportunidade de compra-los, dosá-los e controla-los via “tarjas”, algumas vermelhas, outras pretas... Tudo depende de quantas horas de sono estamos dispostos à pagar!

Todos temos um longo caminho a ser percorrido e, sem dúvida aprenderemos nossas lições ao longo dele. Mas, será que um dia, de fato, nossa maravilhosa razão atingirá a sabedoria? Acredito que a filosofia reinante tem de admitir que não é nela, mas sim na vida, que encontraremos nossas maiores satisfações; não na biblioteca ou na cela monástica, mas na satisfação de nossos instintos mais antigos, aqueles pelo quais, nosso próprio inimigo crônico nos instiga e nos condena.

A felicidade? Bem, acredito ser inconsciente; só nos bafeja quando somos naturais; se nos detemos a analisá-la, desaparece, porque não é natural a nós determo-nos a analisar uma coisa. Se o intelecto contribui para a felicidade não o faz como fonte primária, mas sim como meio de coordenação, como instrumento harmonizador dos desejos. Neste sentido, o intelecto pode ser um precioso auxiliar; e de contrário de nada valeria realizarmos todos os nossos fins, porque os desejos cancelar-se-iam uns aos outros, dando como resultado uma triste futilidade.

Pois bem, essa sou eu. Integrante de uma raça de protótipos imperfeitos e cheios de rancor, que não precisa do que mais de um pouco de poder para começar a mostrar seus defeitos, e agir com a usura que lhe é peculiar. Um ser que porta uma doença crônica, gerada por um parasita chamado sociedade, sim, é essa mesmo o nome do nosso tão querido e estimado sanguessuga particular! Mas, eu, eu mesma, apesar de fazer parte genética dessa escória, nego-me a portar esse vírus incubado. Nego-me a viver conforme regras ditadas por uma sociedade moralmente imoral, nego-me a me render a isso, a esse monte de lixo. Prefiro conhecer a mim mesma, me olhar no espelho e me ver em guerra, do que me descobrir produto dessa escória. Linda por fora, mas recheada de uma fétida e medilcre mesmice cotidiana! Prefiro me olhar no espelho e encarar o MEU reflexo, o meu EGO, o meu eu.

Agora, e você? Já se olhou no espelho hoje?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Imensa Imoralidade da Existência



Viver era como correr em círculo num grande labirinto, esse gênero de labirinto para crianças que se vê em certos parques de jogos modernos; em cima de uma pedra no meio do labirinto há uma pedra brilhante; os miúdos chegam com as faces coradas, cheios de uma fé inabalável na honestidade do labirinto e começam a correr com a certeza de alcançarem dentro de pouco tempo o seu alvo.

Corremos, corremos, e a vida passa, mas continuaremos a correr na convicção de que o mundo acabará por se mostrar generoso para quem correr sem desanimo, e quando por fim descobrimos que o labirinto só aparentemente tende para o ponto central, é tarde demais - de fato, o construtor do labirinto esmerou-se a desenhar várias pistas diferentes, das quais só uma conduz à pérola, de modo que é o acaso cego e não a justiça lúcida o que determina a sorte dos que correm.

Descobrimos que gastamos todas as nossas forças a realizar um trabalho perfeitamente inútil, mas é muito tarde já para recuarmos. Por isso não é de espantar que os mais lúcidos saiam da pista e suprimam algumas voltas inúteis para atingirem o centro cortando caminho. Se dissermos que se trata de uma ação imoral e maldosa, não devemos esquecer que a imoralidade de um homem não poderá, nunca competir com o malefício da ordem do mundo cujas engrenagens bem oleadas funcionam sempre na perfeição.

Temos, por um lado, um desespero que se incendeia rapidamente assumindo formas cada vez menos equilibradas e, por outro lado, uma consciente imoralidade de reflexos metálicos e glaciais, orgulhosa do seu gelo e do seu fulgor.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Medo da Própria Alma




Se Deus não existe... O pior de tudo é que eu digo e afirmo - Deus não existe! - mas na realidade não sei se Deus existe ou não. Não há nada que o prove - ou que prove o contrário. O pior de tudo é que eu sinto uma sombra por trás de mim e não sei por que nome lhe hei-de chamar. O pior que podia acontecer no mundo foi alguém pôr esta ideia a caminho.

Mas mesmo que Deus não exista, tenho medo de mim mesmo, tenho medo da minha alma, tenho medo de me encontrar sós a sós com a minha alma, que é nada, o fim e o princípio da vida e a razão do meu ser. Mesmo que Deus não exista e a consciência seja uma palavra, há ainda outra coisa indefinida e imensa diante de mim, ao pé de mim, perto de mim.