terça-feira, 26 de julho de 2011

... I'll Go Back to Black …



Quatorze de setembro de mil novecentos e oitenta e três; data exata em que nascia uma nova estrela para o mundo. Uma estrela não como qualquer outra existente por ai, mas com um brilho imensamente peculiar, próprio, pessoal. Cantora e compositora brilhantemente brilhante, entrou para o ramo musical em dois mil e três, e com Ela, trouxe filosofias, convicções, revolução, lamentações, concepções, pensamentos, e muita, muita, muita personalidade. Sem medo de cantar e expor seus fracassos, erros e glórias pessoais, Amy Winehouse conquistou não só multidões ou legiões de fãs, mas também seguidores fiéis a suas filosofias e a sua paixão. Arrebatou dentre milhares e milhões de pessoas, não apenas o gosto por seu trabalho, ou a identificação com suas verdades cantadas, mas o coração e a alma de alguns, assim como os dessa pessoa que vos escreve.

Amy não foi e nunca terá sido apenas mais um rostinho bonito e uma voz afinada na televisão. Digam o que quiser, critique o quanto lhes for confortável fazê-lo, joguem pedras, apontem dedos, tripudiem em cima do seu corpo conforme for conveniente a cada um dos abutres (né, Pitty?!) hipócritas que me leem ai do outro lado da telinha. Acusem, rotulem, recriminem. É o que muitos imbecis esvaziados de conteúdo sabem fazer de melhor, não é?! Afinal de contas, temos que dançar a louca ciranda imposta por essa sociedade moralmente imoral em que vivemos; seguir suas regras, modelos e padrões de conduta verdadeiramente mentirosos e hipócritas, para que assim, no fim da estrada possamos apontar dedos e deferir acusações contra quem não os segue, contra quem apenas vive, apenas é si mesmo, sem medo de se mostrar de verdade, sem medo de fazer o que lhe dá na telha de forma clara, nua e evidente a todos.

Coragem, sem dúvida é olhar nos olhos de outro, ou encarar-se frente ao espelho e dizer com todas as letras: “I told ya I was trouble, you know that I'm no good”. Coragem é ser apenas humano, e sim, errar. Muito. Afinal, é inerente a essa nossa raça cometer erros, equívocos, deslizes. Coragem é admitir esses erros, é viver com autenticidade, personalidade e autonomia. Muitos podem ler esse texto e encará-lo basicamente como uma apologia ao estilo de vida adotado por Amy, mas, prezados, não estou aqui para apoiar, tampouco condenar o estilo Winehouse de ser. Estou aqui colocando a disposição minha escrita a fim de despedir-me de um dos maiores ícones da nova geração musical de forma minimamente decente, de forma respeitosa, zelosa e digna dessa mulher que conquistou sim a minha admiração.


Em sua despedida feita pela mídia, as únicas frases que podemos ouvir são de conformismo, são de que Amy procurava por esse fim há muitos anos, e que na verdade essa realidade tardou a bater em sua porta. Muito se fala de suas bebedeiras, de seus “escândalos” públicos, suas internações, e a reabilitação que segundo muitos foi total e completamente fracassada. Ouvimos sobre a “maldição dos vinte e sete anos”, sobre destino traçado a derrota, e até mesmo opiniões de alguns com comentários do tipo: “Ué, mas, o que você esperava que fosse acontecer com a Amy? Que ela fosse encontrar Jesus um belo dia e virar freira? Claro que não, foi para o inferno, porque lá, afinal de contas é open bar”. É, paranoicos, como diria minha querida Pitty, abutres não faltam para tripudiar sob o corpo dela agora, afinal, rótulos, de fato, nunca lhe faltaram em vida e sem dúvida nenhuma, não seria em sua morte que lhe poupariam deles.

Sua vida foi intensa, sim, muito intensa. Ela errou? Não sou juíza para julgar ou estabelecer padrões de bom ou ruim, certo ou errado. Porém, gostaria muito que não tivesse trilhado alguns caminhos, adentrado em algumas matas escuras demais, e que ainda estivesse aqui, entre nós. Infelizmente, nem tudo o que queremos pode ser de fato realizado, e não julgo um milímetro de suas atitudes, fugas ou esquivas pessoais, pois, diferentemente de alguns, Amy sempre bancou sua própria maneira de viver, sempre se assumiu e mostrou-se como verdadeiramente era; sem esconder-se por trás de qualquer mentira montada para impressionar a mídia, ou para que fosse poupada de todas as duras críticas e palhaçadas pela qual foi submetida pela implacável perseguição do famoso The Sun, entre outros.

Independente de qualquer coisa, com certeza Amy, no fatídico dia vinte e três de julho de dois mil e onze, que ainda desperta tristeza, aquele aperto no peito e faz brotar lágrimas não apenas dos meus, mas dos olhos de muitas pessoas espalhadas pelo mundo “we only said goodbye with words” pois, jamais poderíamos cometer o sacrilégio de esquecer quem você foi por aqui, as verdades que jogou no ventilador, a autenticidade com que viveu sua história e a intensidade com que a expôs para o mundo, sem medo, receio, ou importância para o que diriam ou pensariam. Obrigada por ter sido essa pessoa maravilhosa que passou por aqui, e nos deixou um pouco do seu brilho, independente da dor que sua partida nos causa, a deliciosa e saudosa sensação de poder ter feito parte do mundo na mesma época que você, partilhado de seu sucesso e sua música, sem dúvida nenhuma é o maior consolo que você mesma poderia nos ter deixado.

Acredito que a pequena modificação na letra não lhe afetaria, e com certeza, expressa bem a sensação que nós, fãs que ainda sentiremos o gosto amargo de sua partida por muito tempo, carregamos no peito nesse momento: “She walks away, the sun goes down, she takes the day but I'm grown, and in your way, my deep shade, my tears dry on their own”.


We only said goodbye with words ... I'll Go Back to Black

terça-feira, 19 de julho de 2011

Falsidade Desmedida...



Palavras, promessas, juras, verdades, mentiras... Palavras doces e romanticas sussurradas ao pé do ouvido, sentimentos prometidos entre os lençóis, juras de amor e lealdade feitas a moda antiga, olho no olho. Tudo tão intimo, tão pessoal... Sincero? Verdadeiro? Teatral? Mentiroso? Será que há, de fato, como saber o que é falso e o que é real no nosso mundo subjetivo? O que é ilusão e o que é concreto? Dizem por aí que quando amamos, que quando estamos apaixonados, ficamos cegos para as mais nuas e cruas verdades expostas a nossa frente. Sem querer ser bíblica - pois, os que me conhecem sabem o quanto contrario as escrituras ditas sagradas - o amor, afinal, não é aquele que tudo espera, que tudo suporta, tudo tolera, e principalmente que tudo crê? Ora, logo, talvez não haja, de fato, cegueira nenhuma aos apaixonados, amados e amantes. Talvez, o que exista seja uma crença inabalável na capacidade e no potencial milagroso que vendem dessa poção mágica na qual o amor acabou por ser transformado através das telenovelas globais, e das grandes produçōes cinematográficas de Hollywood.

Chega a ser incrível o fato de que por mais que seja óbvio o quanto algumas pessoas não são boas para nós, invariavelmente esperamos estar enganados, e sempre que essa pessoa faz algo que mostre que ela não é boa, ignoramos. E sempre que faz algo minimamente bom, ela te reconquista, fazendo com que nos enganemos achando que ela é a pessoa certa para nós. Parece existir uma fé incostestável na capacidade do outro de mudar, de se transformar, que nos faz ignorar completamente os fatos, o real, o concreto e tudo o que vemos de errado naquela pessoa. Que faz, por vezes, até mesmo que nos culpemos pelos erros e falhas alheias, responsabilizando-nos pela falta de aplicação, dedicação e doação pessoal de outrem, a fim de fazer com que um relacionamento funcione, de certo. Quantas e quantas vezes, caros paranóicos, nós não nos auto anulamos, ignoramos e atropelamos nossos sentimentos em prol das vontades, desejos, preferências e caprichos das pessoas que amamos? Amigos, família, filhos, maridos, esposas... Quantas vezes o sacrifício valeu a pena? Quantas vezes um sorriso, um beijo, ou um abraço, tornaram doce o gosto do azedo proporcionado no momento em que nosso orgulho descia pela garganta? Enquanto queimava no estômago? Sem dúvida paranóico, inúmeras vezes. Porém, hoje me ponho a pensar... Sera que mesmo tudo isso, é capaz de perdoar e superar a dor da traição? Será isso tudo, capaz de suportar o sangue quente escorrendo lenta e dolorosamente após sermos apunhalados tão bruscamente pelas costas? 

 

Bom, como tudo na vida, o amor, carinho, afeto e a ternura, também podem sofrer mudanças e transformaçōes. Passam a ser reconhecidos como ódio por sua intensidade afetiva, raiva por sentir-se sangrar em virtude de sua própria culpa, sua própria cegueira diante dos fatos; nojo por sentir que partilhou, mesmo sem saber, de tanta sujeira, de tanto lixo, por saber que apertou muitas vezes a mão daquele rapaz, que abraçou e se lamentou tanto com aquela garota, aquela, justamente aquela com a qual o que você pensava que era seu, se foi. Sentir-se um completo estúpido por ter acreditado, escutado, compreendido, relevado, esperado, se doado, amado, lutado, defendido, sofrido e tantas outras coisas por aquela pessoa, aquela, que você pensou que fosse sua e de mais ninguém, aquela, que você pensou que fosse para sempre. Pois é, estimado paranóico, como diria a ilustre Cassia Eller, "o para sempre, sempre acaba", de fato!

De amor, sabemos que ninguém morre, mas e todos aqueles planos, sonhos, todo aquele fururo projetado? Isso sim falece, padece, morre. E é exatamente essa nossa dor, nosso luto. Mas e aí?! E ai, você sangra mais um pouco, chora mais um pouco, deprimi mais um pouco, intensifica os xingamentos em frente ao espelho, rasga as fotos, joga fora os presentes, atravessa a rua para a calçada oposta e mesmo assim sente seu estômago embrulhar de nojo quando acidentalmente encontra essa pessoa, perde a fome, o sono, a vontade, o tesão... Sente que esta ruindo, desmoronando, e que o único destino que lhe cabe é o fundo, o fundo do poço, o pé na lama, no lodo... Até que um dia, você acorda, e como se despertasse de um pesadelo, passa a reconstituir e reconstruir sua realidade. Percebe o quanto seu julgamento de valores estava invertido, falho, errado; percebe seu próprio valor, passa a não se reconhecer mais como a escória da humanidade, e se da conta de uma questão extremamente essencial: na verdade, não foi você o enganado, não é você o agente causador de todo o lixo pelo qual passou, não é você o culpado, o responsável!

Nesse momento, você passa a olhar no espelho e ver o que e quem você é de verdade, quanto você de fato vale, e passa a ter a dimensão de quão injusto foi consigo mesmo quando proferiu todas as auto-acusações e os auto-xingamentos em frente a esse mesmo espelho, a essa mesma face, a essa mesma pessoa. Sente que todo aquele ódio se foi, tanto por aquela pessoa, quanto por aquele passado e por aquela história como um todo. O luto se vai, a dor cessa, a ferida para de sangrar e você passa a se reencontrar, se redescobrir. E agora, apesar dos machucados e do período de latência e inercia ao qual sua vida foi abruptamente submetida, ou pior, no período em que ela lhe escorria por entre os dedos e naufragava no mar da auto-destruição, você sente-se mais forte, mais preparado, sábio, perceptivo, vacinado! Sente sua auto-estima e amor próprio voltando, a passos lentos, mas, já a caminho de si, de sua consciência.

Nesse momento, as vezes andamos só e trocamos alguns passos com a solidão, mas, no fim de tudo, você pode ver que na verdade, como diria Renato Russo, conseguiu seu equilíbrio, cortejando a tênue linha que nos separa da insanidade, enquanto todo aquele caos seguia, e sempre seguirá em frente com toda a calma do mundo.