sábado, 22 de outubro de 2011

... Estar Só ...



Estar só, não é apenas isolar-se de outras pessoas. Não é apenas não ter companhia para ir aquela festa, ou para comer pizza em uma noite de sábado chuvoso. Estar só é mais do que isso, é sentir-se invisível e ao mesmo tempo exposto, é sentir-se despido de tudo, nu, cru. Estar só vai muito além de uma condição quantitativa e até mesmo qualitativa. É consideravelmente indefinido por vocabulário, pois, a real compreensão de sua dimensão não envolve intelecto, tampouco expertise. Não envolve técnica ou teoria, apenas sentimento, poucas cores e fracos sabores. É, portanto, um estado de espírito que como diria Clarice Lispector, de fato, não se entende via inteligência, mas pela sensibilidade. Ou toca, ou não toca.

Olhar para o lado e ver que não tem ninguém caminhando de mãos dadas conosco, é uma realidade consideravelmente dura, e um tanto quanto cruel. Porém, o que é, de fato, a solidão, se não o espelho de nossa própria alma? Um encontro com nosso "eu" intimamente secreto, aquele que esconde alguns segredos até de si mesmo. Pois bem, a solidão, por si só, é existencialmente uma condição inerente à humanidade, afinal, podemos fazer parte de vários grupos, e exercer os mais diversos papéis sociais, como por exemplo, o de mãe, pai, irmão, irmã, filha, filho, marido, esposa, professor, médico, advogado, dentre outros, porém, nunca deixaremos de existir como seres únicos, individuais e sozinhos.

Apropriar-se dessa realidade não é tarefa fácil, muito pelo contrário. Acredito eu, que não haja nada mais complexo do que admitir sua própria solidão. Encarar o fato de que as pegadas que trilharão a jornada de sua vida serão apenas as duas que você possui, é angustiante, dolorido e altamente conflitante. Porém, paranóicos, hoje me ponho a pensar: não seria exatamente a interiorização dessas verdades, que nos fariam mais fortes? Que nos poupariam lágrimas, dores e sofrimento? Pois, vejam bem, quando não se espera muito, não se perde muito. Afinal, quando a expectativa é baixa, a decepção também não toma proporções que parecem te engolir viva.


Sentir-se só, estar, de fato, nessa condição, é pior do que estar sozinho. É um vazio que parece não acabar mais, uma escuridão que ao mesmo tempo que mostra-se densa, tensa e pegajosa na pele, você não toca, apenas sente, vive. Olho pela janela, observando esse vai e vem, essa correria desenfreada, essa desordem maluca de São Paulo, e sinto pulsando na pele a dor da solidão, na ponta da língua o amargo do abandono, o "estou indo embora" revirando meu estômago, me pressionando pra baixo, com força, com vontade. Eu não quero estar lá novamente, não tem muito tempo que sai desse poço, e sinceramente não desejo voltar para lá.

Me sinto anestesiada em alguns momentos. Por vezes esse tédio todo me consome, me tira o sono, a inspiração, a vontade. As dores me cansam, sejam elas físicas ou emocionais. Esse ócio todo, por mais contraditório que seja, me esgota. A imobilidade, a inércia que minha vida foi abruptamente submetida, pesa, grita, me suga. Não é tarefa fácil passar por isso sozinha, sem mão nenhuma pra segurar, sem voz nenhuma pra ouvir, abraço pra sentir, cafuné pra receber. Encarar tudo isso no espelho pela manhã anda doendo, sangrando, e machucando mais do que eu gostaria, se eu não puder dizer mais do que eu já posso suportar.

Acredito paranóico, que resumidamente, estar só, seja mesmo como disse Caio Fernando Abreu: "Esta coisa terrível de não ter ninguém para ouvir o meu grito. Esta coisa terrível de estar nesta ilha desde não sei quando. No começo eu esperava, que viesse alguém, um dia. Um avião, um navio, uma nave espacial. Não veio nada, não veio ninguém"