segunda-feira, 21 de março de 2011

Desilusões ...




Afinal, o que será que é a vida? Será que possui, de fato, uma definição palpável, narrável, tangível? Porventura há nela a possibilidade de mensuração? Será que vivemos tão somente com, por ou para a razão, o amor, o ódio? Ou a pergunta mais cabível aqui seria aquela, já antiga, feita pelo sambista: “ela é maravilha ou é sofrimento, ela é alegria ou lamento?”. Ou ainda, será que na verdade, o que de fato interessa-nos, seria não o que ela é, mas como perguntaria e como realmente perguntou-se durante toda a sua vida e obra o célebre Winnicott: “afinal, de que se trata a vida?”.

Pois bem, seria então a vida, por acaso, um grande conjunto de sonhos, ilusões, expectativas, decepções, frustrações e desilusões? Ora, quantas e quantas vezes já não ouvimos as frases: “Cai na real”, “Acorda para a realidade”, ou melhor, “Acorda para a vida!”? Seriam desta forma, nossos devaneios na verdade momentos de concreta irrealidade, loucura, de “não vida”, ou apenas sonhos que serviriam de combustível e alavanca motriz para a busca de determinado objetivo, sonho, e da tão almejada realização pessoal?

Hoje, após alguns acontecimentos em minha vida, me pego pensando nestas questões. Indagando-me algumas coisas, confrontando algumas verdades, encarando e perscrutando minha própria alma em frente ao espelho pela manhã. Em meio a esse processo ainda não alcancei brilhantes soluções, conclusões, tampouco explicações para grande parte – se não para todas – das questões as quais hoje me proponho a filosofar aqui com vocês, caros paranóicos.

Pois bem, acredito que a vida seja na verdade, uma imensa, incansável e irreparável busca por si mesmo. A busca pela essência de nosso eu, e pelo eu que há em nossa essência. Essência essa que por vezes é abafada, escondida e enterrada no porão da obscuridade que compõe nosso inconsciente, que por vezes perde-se em meio a loucura e complexidade que é nosso dinamismo psíquico, nossa verdade enterrada, nossos desejos primitivos lutando contra a repressão Superegóica que nos obriga a adequação comportamental contínua e constante, exigida pela sociedade, pela religião, costumes, tradições, culturas, família, e etc.

Nessa jornada em busca do resgate, ou até mesmo do próprio conhecimento de nosso eu, vivenciamos problemas, desencontros, desafetos, decepções e a desconstrução de muitos sonhos, mitos e fantasias; enfim, desilusões. Esses tropeços, dificuldades problemas e empecilhos no caminho, nos deixam marcas, memórias e traumas, nos implantando assim uma irreparável e incompreendida saudade de coisas que nem sequer sabemos ou conhecemos, e tampouco vivemos!

Esse caminho a ser percorrido, essa busca, a meta a ser alcançada e essa saudade desconhecida, trazem a esta já árdua e áspera jornada rumo ao conhecimento do interior de si mesmo, características muito peculiares a ela, sendo estas, representadas por principalmente duas palavras que assustam a maioria de nós: “dor e sofrimento”. É justamente em meio a esta busca pelo conhecimento e libertação de nós mesmos que nos perdemos e nos prendemos cada vez mais em nossa alma. Nossas auto defesas, nossos anseios, os medos, as angústias, as “caras feias” e os “sorrisos largos”, todos ali, nus, expostos, e exatamente para aquele que nunca deveria encará-los e muito menos desafiá-los; sim, paranóico, esse alguém somos nós mesmos. Somos feitos para escondermos-nos de nossa própria verdade, ensinados que mentir é feio e o papai do céu não gosta, enquanto passamos à vida camuflando as situações pela quais vivemos, omitindo de nós mesmos nossos sentimentos, nosso verdadeiro “eu”, nossas filosofias por vezes arraigadas em nós por uma herança familiar que perpetua por gerações e gerações a fio, tendo todos a herança de honrar suas crenças, supostas verdades e verdadeiras mentiras.

O momento de olhar-se no espelho, e ver seu próprio eu refletido em sua face, é um dos, se não o maior conflito que podemos ter com nós mesmos, com nossos pais, com nossa cultura, com nossa criação, com nossos temores, nossas mágoas que escondem profundas decepções, desilusões, frustrações. As palavras não ditas, o desabafo não feito, o xingamento guardado, a discussão “engolida”, o grito entalado na garganta, a negação, a afirmação, o sim, o não, a dúvida, a certeza. Contraditório demais, prezado Paranóico? Não, contraditório não, ambíguo sim, porém, é justamente essa capacidade de amar e odiar ao mesmo tempo, de querer e desprezar, de ter e abrir mão simultaneamente que nos diferencia dos outros animais. Nossa ambição, a benção que nos foi dada geneticamente a fim de nos livrar de uma mesmice intitulada de “ciclo da vida”, “nascer – crescer – reproduzir e morrer”, enfim, de toda essa pré-destinação de histórias de vida, desses fatalismos criados pelo homem moderno a fim de manipular um sistema social ridículo, para não dizer podre e fétido controlado por uma “entidade fantasma” que chamamos ainda de sociedade.

Muitos podem dizer que viver de ilusões é ruim, outros que a desilusão é algo que nos corroe, mata e aniquila em um processo que inicia-se de dentro para fora. Mas, será que se não nos iludirmos um pouquinho só, se não sonharmos um pouquinho só, conseguiríamos almejar sucesso profissional, pessoal, amoroso, dentre tantas outras coisas e situações? E se as malditas e dolorosas desilusões não existissem, será que teríamos mecanismos para poder aprender a como não cair mais? Será que conseguiríamos suportar as dificuldades impostas pela dureza da vida real? Logo, em suma, caros paranóicos, acredito que somos e compartilhamos uma série de Ilusões sonhadas e desilusões vividas.