terça-feira, 19 de julho de 2011

Falsidade Desmedida...



Palavras, promessas, juras, verdades, mentiras... Palavras doces e romanticas sussurradas ao pé do ouvido, sentimentos prometidos entre os lençóis, juras de amor e lealdade feitas a moda antiga, olho no olho. Tudo tão intimo, tão pessoal... Sincero? Verdadeiro? Teatral? Mentiroso? Será que há, de fato, como saber o que é falso e o que é real no nosso mundo subjetivo? O que é ilusão e o que é concreto? Dizem por aí que quando amamos, que quando estamos apaixonados, ficamos cegos para as mais nuas e cruas verdades expostas a nossa frente. Sem querer ser bíblica - pois, os que me conhecem sabem o quanto contrario as escrituras ditas sagradas - o amor, afinal, não é aquele que tudo espera, que tudo suporta, tudo tolera, e principalmente que tudo crê? Ora, logo, talvez não haja, de fato, cegueira nenhuma aos apaixonados, amados e amantes. Talvez, o que exista seja uma crença inabalável na capacidade e no potencial milagroso que vendem dessa poção mágica na qual o amor acabou por ser transformado através das telenovelas globais, e das grandes produçōes cinematográficas de Hollywood.

Chega a ser incrível o fato de que por mais que seja óbvio o quanto algumas pessoas não são boas para nós, invariavelmente esperamos estar enganados, e sempre que essa pessoa faz algo que mostre que ela não é boa, ignoramos. E sempre que faz algo minimamente bom, ela te reconquista, fazendo com que nos enganemos achando que ela é a pessoa certa para nós. Parece existir uma fé incostestável na capacidade do outro de mudar, de se transformar, que nos faz ignorar completamente os fatos, o real, o concreto e tudo o que vemos de errado naquela pessoa. Que faz, por vezes, até mesmo que nos culpemos pelos erros e falhas alheias, responsabilizando-nos pela falta de aplicação, dedicação e doação pessoal de outrem, a fim de fazer com que um relacionamento funcione, de certo. Quantas e quantas vezes, caros paranóicos, nós não nos auto anulamos, ignoramos e atropelamos nossos sentimentos em prol das vontades, desejos, preferências e caprichos das pessoas que amamos? Amigos, família, filhos, maridos, esposas... Quantas vezes o sacrifício valeu a pena? Quantas vezes um sorriso, um beijo, ou um abraço, tornaram doce o gosto do azedo proporcionado no momento em que nosso orgulho descia pela garganta? Enquanto queimava no estômago? Sem dúvida paranóico, inúmeras vezes. Porém, hoje me ponho a pensar... Sera que mesmo tudo isso, é capaz de perdoar e superar a dor da traição? Será isso tudo, capaz de suportar o sangue quente escorrendo lenta e dolorosamente após sermos apunhalados tão bruscamente pelas costas? 

 

Bom, como tudo na vida, o amor, carinho, afeto e a ternura, também podem sofrer mudanças e transformaçōes. Passam a ser reconhecidos como ódio por sua intensidade afetiva, raiva por sentir-se sangrar em virtude de sua própria culpa, sua própria cegueira diante dos fatos; nojo por sentir que partilhou, mesmo sem saber, de tanta sujeira, de tanto lixo, por saber que apertou muitas vezes a mão daquele rapaz, que abraçou e se lamentou tanto com aquela garota, aquela, justamente aquela com a qual o que você pensava que era seu, se foi. Sentir-se um completo estúpido por ter acreditado, escutado, compreendido, relevado, esperado, se doado, amado, lutado, defendido, sofrido e tantas outras coisas por aquela pessoa, aquela, que você pensou que fosse sua e de mais ninguém, aquela, que você pensou que fosse para sempre. Pois é, estimado paranóico, como diria a ilustre Cassia Eller, "o para sempre, sempre acaba", de fato!

De amor, sabemos que ninguém morre, mas e todos aqueles planos, sonhos, todo aquele fururo projetado? Isso sim falece, padece, morre. E é exatamente essa nossa dor, nosso luto. Mas e aí?! E ai, você sangra mais um pouco, chora mais um pouco, deprimi mais um pouco, intensifica os xingamentos em frente ao espelho, rasga as fotos, joga fora os presentes, atravessa a rua para a calçada oposta e mesmo assim sente seu estômago embrulhar de nojo quando acidentalmente encontra essa pessoa, perde a fome, o sono, a vontade, o tesão... Sente que esta ruindo, desmoronando, e que o único destino que lhe cabe é o fundo, o fundo do poço, o pé na lama, no lodo... Até que um dia, você acorda, e como se despertasse de um pesadelo, passa a reconstituir e reconstruir sua realidade. Percebe o quanto seu julgamento de valores estava invertido, falho, errado; percebe seu próprio valor, passa a não se reconhecer mais como a escória da humanidade, e se da conta de uma questão extremamente essencial: na verdade, não foi você o enganado, não é você o agente causador de todo o lixo pelo qual passou, não é você o culpado, o responsável!

Nesse momento, você passa a olhar no espelho e ver o que e quem você é de verdade, quanto você de fato vale, e passa a ter a dimensão de quão injusto foi consigo mesmo quando proferiu todas as auto-acusações e os auto-xingamentos em frente a esse mesmo espelho, a essa mesma face, a essa mesma pessoa. Sente que todo aquele ódio se foi, tanto por aquela pessoa, quanto por aquele passado e por aquela história como um todo. O luto se vai, a dor cessa, a ferida para de sangrar e você passa a se reencontrar, se redescobrir. E agora, apesar dos machucados e do período de latência e inercia ao qual sua vida foi abruptamente submetida, ou pior, no período em que ela lhe escorria por entre os dedos e naufragava no mar da auto-destruição, você sente-se mais forte, mais preparado, sábio, perceptivo, vacinado! Sente sua auto-estima e amor próprio voltando, a passos lentos, mas, já a caminho de si, de sua consciência.

Nesse momento, as vezes andamos só e trocamos alguns passos com a solidão, mas, no fim de tudo, você pode ver que na verdade, como diria Renato Russo, conseguiu seu equilíbrio, cortejando a tênue linha que nos separa da insanidade, enquanto todo aquele caos seguia, e sempre seguirá em frente com toda a calma do mundo.

Um comentário:

  1. Sensacional. Dessa vez, de verdade você deu um show Nany! Show de escrita, intensidade e sinceridade; por fim, só tenho que lhe dar parabéns, mais uma vez né?! Rs... Continue assim, você já evoluiu muito, sem dúvida continuará a crescer. Só um pedido para você: POST MAIS!!!

    Beijos linda, te amo!

    Dany ;)

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