sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

... Palavras, apenas? ...



Por diversas vezes talvez não notemos, ou na verdade, acabamos por não dar a devida importância para o peso que as palavras possuem. Como diria aquele velho ditado Chinês que com certeza, todos nós já ouvimos na vida: "Há apenas três coisas que nesta vida, não voltam atrás. A pedra atirada, a flecha lançada e a palavra proferida".

As palavras são permanentes e, na realidade, possuem um poder atemporal. Sobrevivem ao tempo, ao espaço, ao frio, a chuva, ao calor, ao sol, aos dias, as semanas, aos meses e aos anos. Possuem em cada uma de suas letras, verdades, mentiras, desculpas, acusações, sentimentos, sarcasmo, ironia, piadas, tragédias, informações, ilusões fabricadas, falsidade, dentre muitas outras coisas. Quantos de nós, quantas vezes já não pensamos que teria sido melhor, ou menos dolorido se levássemos um tapa na cara, do que ouvirmos um "não" de algumas pessoas, ou um "não te quero", "eu desisto", "não vale a pena pra mim". Em quantos momentos um xingamento, uma ofensa, uma discussão, seriam consideravelmente menos dilacerantes e traumáticos se tivessem resumido-se apenas a tapas e chutes?! Em contrapartida, não há dinheiro ou qualquer tipo de compensação que possa pagar a alegria e realização de receber um "sim" de quem se ama, ouvir e dizer "eu te amo" quando o sentimento é verdadeiro e mútuo, gentilezas, elogios, carinho, afeto...


Contudo, apesar de todos os pesares deste poder que carregam, jamais podemos nos esquecer que as mesmas palavras que compõem as mais cruéis tragédias, são também as que escrevem a poesia da vida. Possuem a força para nos erguer a alturas que nem ao menos pensávamos que pudessem existir, como também para nos fazer despencar a abismos que jamais sonhamos. Porém, toda e qualquer palavra necessita de algum tipo de linguagem para que seja expressa e atinja assim, seus objetivos e fins pré-destinados e estipulados por intermédio de seu interlocutor, que por sua vez, assume e carrega sempre consigo essa sina, essa responsabilidade de significação da escrita, da fala, do gesto, do toque, e muitas vezes, até mesmo do silêncio proferido.


Interpretações, nuances, tons, intensidade, verdade, mentira, razão, lógica, coerência, fantasia, irracionalidade, loucura, insensatez. Tudo isso esta em minhas mãos agora, aliás, para ser mais exata, uma infinidade de possibilidades existem agora, guiadas pela ponta dos meus dedos enquanto tocam as letras deste teclado, formando as palavras, frases e esse texto como um todo. O poder contido na linguagem não olha para cor, credo ou classe social. Não preocupa-se com níveis intelectuais, culturais, tampouco com o quão rebuscado é ou não cada vocabulário. Ele disponibiliza-se, oferece-se e pertence a todos aqueles que se aventuram a utilizar-se dele para fins ideais, ou não. Aos politicamente corretos, e aos mais desprovidos de moralismo. Aos polidos e aos desbocados.

Sendo assim, livre de preconceitos, as palavras desconhecem limites ou barreiras, ultrapassando em sua maior parte os limites físicos do ser, e adentrando em nossas almas, mentes e corações. Toda essa liberdade transitória que possui, acaba por trazer consigo a capacidade de tornar-se muito mais do que tinta de caneta em um papel, ou meros discursos ao vento. Mas, a capacidade de expressão, o sentimento por trás da tinta, o pensamento por trás de mentes confusas, as ideologias subliminares ou explícitas, o medo ou a coragem de abrir a boca e dizer o que se esconde lá dentro, lá onde ninguém acessa, muitas vezes nem nós mesmos.

É nesse momento, quando nem nossos travesseiros são ouvintes suficientemente bons para algumas verdades que queremos esquecer, ou algumas mentiras em que gostaríamos de acreditar, que um papel e uma caneta empossam-se de toda essa soberania e potência linguística, tornando-se o campo neutro de nossa alma; aqui, tudo passa a ser livre, permitido e de bom tom. Nada é demais, tampouco de menos. Não há necessidade da taxativa conceitual qualitativa das coisas, não se faz presente o bom ou ruim, certo ou errado, bonito ou feio.

Esse desprendimento habitante às palavras, hoje torna-se essencial e profundamente necessário para mim. Não consigo mais me conceber existindo e não escrevendo, pensando, criticando, filosofando, teorizando, me expressando, sendo isso interessante ou não para o resto do mundo. Acredito que me sinto como em certa vez, quando perguntaram a uma das principais influenciadoras tanto da minha escrita, quanto do meu gosto acentuado pela leitura, o porque ela escrevia, e então Clarice Lispector respondeu: Porque você bebe água?

2 comentários:

  1. Nany,

    Você sabe que sou sua maior fã desde que li o seu primeiro texto, certo?! Rs... Só posso dizer que a cada dia mais vc me surpreende e me faz te admirar mais e mais.

    Esse texto esta absurdamente perfeito. Fala demais sobre essa paixão de escrever, sobre qual a importância que as palavras e a comunicação exercem no mundo. Perfeito!

    Bela maneira de encerrar 2011. Te amo loira!

    Beijos, Freitas.

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  2. Minha priminha é fera rsrsrs..bjus lora

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